por @MarcosHiller
O brasileiro adora as redes sociais digitais. Nem metade do Brasil ainda
tem acesso à Internet, mas praticamente todos que usam estão conectados a algum
site de rede social: Facebook, Twitter, YouTube, Badoo, LinkedIn, e por aí vai.
Estamos no top five dos países que mais usam Twitter, Facebook e Orkut no
mundo. São Paulo é a segunda cidade que mais tuíta no mundo. No entanto,
passamos pra lá do 100º lugar quando falamos de percentual de usuários de
internet diante do número total da população. Uma razão meio lógica do porquê
dessa nossa vergonhosa posição é que a Internet no Brasil ainda é muito cara e
muito lenta, nossa infra-estrutura não é das melhoes e certamente as mídias
digitais demorarão muito ainda para serem usada pelas empresas como mídias de massa.
Televisão, jornais e revistas ainda são as mídias que dominam os investimentos
em nosso mercado publicitário pelo simples fato de que é por meio dessas mídias
off-line que as agências engordam seus faturamentos.
Por volta de 2005 eu entrei no Orkut, aquela nova rede social em que nos
viciamos rapidamente e que nos magnetizava para reencontrarmos amigos,
bisbilhotarmos vidas alheias e praticarmos nascisismos nos nossos álbuns e
perfis. Reencontramos amigos da escola, do bairro. O Orkut era legal demais,
criávamos comunidades e interagíamos muito nelas. Fuçávamos os scraps
(praticamente uma caixa aberta e pública de emails). O Orkut foi uma ferramenta
meio pedagógica tamém. Ele nos ensinou a entender as lógicas dos sites de redes
sociais e a modular nosso comportamento nesses novos ambientes virtuais. Quem
nunca passou por alguma saia justa no Orkut que atire a primeira pedra. Quem
nunca pagou algum mico pelo Orkut? E as comunidades então? Elas eram
excelentes. Tinha aquela do “Odeio acordar cedo” que congregava milhões de
usuários. Além de outras espetaculares como “Gostou? Pega senha!”, “Volta pro
mar oferenda!”, “Eu reencontrei minha mãe pelo Orkut”, “Não fui eu, foi meu eu
lírico”, etc.
Há alguns anos, estive em uma palestra que Orkut Büyükkokten, o criador
da rede, ministrou na Escola Politécnica dentro da Universidade de São Paulo
(USP). Logicamente, ele fazia questão de pisar em solo brasileiro sempre que
possível, afinal o Brasil ainda era o maior usuário de Orkut no planeta. Logo
no começo da palestra, deu a mão à palmatória afirmando que criou a rede para
se conectar com amigos e somente anos depois pensou em como capitalizá-la,
criando banners, links patrocinados, etc. A parte mais divertida da
palestra foi quando apresentou as correlações entre as comunidades. Apontou que
80% das pessoas que estavam na comunidade “amo sushi” também estavam na
comunidade “amo fotografia”, concluindo que pessoas que tiram fotos também
apreciam comida japonesa. Mostrou que 90% das mulheres que estavam na comunidade
“sofro de TPM” participam da “amo chocolate”, comprovando uma proximidade de
temas já conhecida há anos. Por fim, mostrou que usuários que utilizam foto sem
camisa no perfil têm 90% de probabilidade de serem do Brasil. A plateia caia na
gargalhada, mas o Sr. Orkut não entendia aquela suposta fixação brasileira de
posar sem camisa para fotos. Ele também tem o hábito de fornecer seu email, que
é muito fácil orkut@google.com (não sei
se ele ainda lê esse email).
O fato é que o Orkut perde usuários de forma significativa todos os
meses. E a principal hipótese é meio óbvia: todos estão aos poucos migrando
para o Facebook, essa genial rede social usada por mais de um bilhão de
terráqueos. Mas o Orkut ainda tem usuários. Como assim, se grande parte de meus
amigos só usa Facebook? Pois é, temos o hábito de usarmos como referência e nos
balizarmos nas ações de nossos amigos mais próximos. Oras, o Brasil é muito
grande, é um país continental, temos vários Brasis dentro do Brasil. Temos
diversos São Paulos dentro de São Paulo.
Recentemente perguntei para uma turma de alunos de uma faculdade que
leciono na capital paulista. Perguntei se alguém ainda usava Orkut. Cerca de
meia dúzia levantaram a mão, e eu questionei por que não usavam o Facebook. E a
resposta veio na lata: “ah não professor, acho o Facebook muito chique”. Sabe
eles têm um bocado de razão. O Facebook é chique mesmo. O nome é gringo e o
site é azul. Na teoria das cores, azul é cor da nobreza, é cor de sofisticação.
Mas a rede de Mark Zuckerberg veio pra ficar, cresce cada vez mais no Brasil e
o Orkut já foi bem ultrapassado pelo Facebook. As redes sociais digitais são
fantásticas. Ali podemos ser nós mesmos, ou não. Podemos ser outro. Podemos
modelar um perfil de um jeito que a gente queira que demais usuários nos
enxerguem. Podemos expor nossas opiniões, sem as exigências do relacionamento
pessoal. Para dar parabéns para amigos no Facebook é muito mais cômodo: eu
escrevo uma mensagem padrão como “parabéns e felicidades”, copio e vou colando
nos murais de meus amigos aniversariantes. Mais conveniente e mais barato do
que ligar para a pessoa e desejar tudo de bom.
Seja saudosista. Ressuscite do orkuticídio que você cometeu e comece a
postar tudo lá de novo. O Orkut mudou e está com um visual muito mais moderno.
Até o aplicativo para iPhone disponível na app store está mais bacana e
intuitivo. Eu mesmo pensei em voltar pro Orkut hoje mesmo. Só que não!
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