por @MarcosHiller
Escrevo
esse texto no dia 29 de maio de 2013. A chance desse meu texto ficar obsoleto
daqui a alguns poucos meses é enorme. Aliás, esse é um risco que pessoas como
eu correm. Pessoas que se interessam em pesquisar a cultura digital e tentam
entender como se dão essas novas lógicas sociais e de consumo. Mais que isso,
minha principal inquietação hoje é entender como se dá a apropriação social de
dispositivos, tecnologia e marcas nesse ecossistema que habitamos. Eu assumo
esse risco. Não me importo. Vamos lá!
Nesse
universo hiperconectado que nós todos estamos inseridos, a tecnologia se torna
uma mais metáforas mais sedutoras para entender a construção das subjetividades
das pessoas hoje em dia. As pessoas com os quais vivemos e interagimos,
fundamentalmente os jovens, percebem e assumem as relações com os outros como
uma experiência norteada pelos afetos e pela sensibilidade. E dentro desse
mundo difuso, não-linear e de relações complexas, repousa um indivíduo cada vez
mais conectado. Muito conectado. São os ONdivíduos. Ao mesmo tempo que as
pessoas estão cada vez mais conectadas, elas estão cada vez mais individuais.
Individuais mas cada vez mais conectadas e digitando furiosamente em telas
sensíveis ao toque o tempo todo. O fato de eu estar conectado não significa que
eu estou interagindo. Muito pelo contrário. Conectividade é hoje estar
simplesmente logado. Mais que isso, a partir do momento em que faço um simples
login em um site de rede social, estou fazendo parte da intimidade de pessoas,
sabendo o que eles pensam, dizem, ou como pretendem se apresentar e obter
alheias validações de seus afetos. Aliás, o que há de social nos sites de redes
sociais? Pra mim, muito pouco. O Facebook nada mais é que uma arena virtual
onde mais de 1 bilhão de terráqueos tentam construir jogos discursivos e
narrativas envolventes a fim de que outros usuários tomem conhecimento e
validem a bel-prazer aquele manancial de conteúdos emocionais.
Ao mesmo
tempo que esse mundo conectado é sedutor, ele é assustador. Ao mesmo que essa
nova cena digital é magnética, ela nos afasta uns dos outros. Há autores que
dizem que a arena online é tão atrativa e convidativa pelo fato dela não ter as
exigências do mundo real, do mundo offline, da nossa vida aqui e agora. Sou
obrigado a concordar um pouco com isso. A vida hoje em dia nos impõe muitas
exigências e obrigações sociais que não necessariamente estamos afim de
cumpri-las naquele momento, naquela hora, naquele instante. Dar parabéns para
amigos aniversariantes implica em termos que ligar para pessoas, gastarmos
dinheiro e tempo com ligações telefônicas e, às vezes, conversarmos com pessoas
que não estamos necessariamente com vontade de falar naquele dia. No Facebook,
por exemplo, escrevemos aquelas mensagens (supostamente sinceras e profundas) e
em frações de segundos todos já estão devidamente parabenizados. Pronto.
Simples. Rápido. Afinal, somos ONdivúduos.
Internet
das Coisas, Big Data, Cultura da Convergência são apenas exemplos de felizes
expressões criadas para rotular essas transformações que impactam nosso
dia-a-dia. E quando analisamos a fundo as potenciais transformações que estão
por vir, eu fico um tanto quando apreensivo, mas meio assustado. Fico animado
mas um pouco perturbado. Do que a tecnologia é capaz de fazer? Tudo? Fala-se que,
num futuro próximo, quando estivermos nos aproximando de nossa Starbucks
favorita, eles já saberão que estamos chegando perto e o nosso café (do jeito
que gostamos) já começará a ser preparado antes mesmo da gente entrar na loja.
Quartos de hotéis em Las Vegas já personalizam as luzes, o som e a claridade da
janela em função das preferências do hóspede, antes mesmo dele chegar no andar.
E olha que o Wi-Fi, um dos mais potentes amálgamas que unem todas as essas
coisas, tem apenas 10 anos de vida. Muito em breve, nosso smartphone irá
sabiamente nos alertar que corremos o "risco" nos deparar com uma
ex-namorada que está vindo na rua em nossa direção, e poderemos sagazmente
desviar daquele caminho. Muito prazer. O mundo está interligado e nós somos os
ONdivíduos.
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