por @MarcosHiller
A cena
digital faz surgir novos modos de ser e de apresentar nesse ecossistema que
habitamos, e nos faz refletir sobre certas performances identitárias que se
fundamentam na retórica radical do fitness como qualidade de vida e seu
compartilhamento nas redes sociais digitais, mais precisamente no Instagram. Na
era do espetáculo e do culto ao corpo em que vivemos, gostaria de trazer para a
nossa inquieta reflexão a atriz-social Gabriela Pugliesi, dona do blog
(http://www.tips4life.com.br) e que tem feito relativo sucesso por meio de seu
perfil no aplicativo de fotos Instagram. A blogueira está arrebanhando uma
legião de seguidoras (sim, a maioria são mulheres, logicamente) por conta de
uma estratégia de fotos e textos baseada no oferecimento de um profícuo
cardápio que visa a aumentar a “qualidade de vida”. No momento que escrevo esse
despretensioso texto, Gabi tem mais de 130 mil seguidores. Ela é uma dessas
personagens que protagoniza hoje o fenômeno que entendo como “reality show
fitness”, pois se trata de uma cidadã comum que adquire status de
celebridade de forma abrupta e meteórica por meio de um processo de
espetacularização de suas práticas cotidianas, principalmente àquelas
associadas ao condicionamento físico do corpo e ao discurso da qualidade de
vida.
Especialmente
no Brasil, é relativamente compreensível o sucesso do site da moça pois, de
acordo com as pesquisas da antropóloga Mirian Goldenberg, o corpo humano se
apresenta como um verdadeiro capital físico, simbólico, econômico e social.
Nesse sentido, mesmo tendo à sua disposição um poderoso arsenal, fornecido
aparentemente de forma gratuita por marcas de roupas e alimentos funcionais,
Pugliesi apresenta o tempo todo técnicas e dicas de como cultuar os corpos
humanos desencantados de suas potências simbólicas para além de uma simples boa
aparência. O consumo moderno define-se pela proeminência de atributos
simbólicos dos produtos em detrimento de suas qualidades estritamente
funcionais e pela manipulação desses atributos na composição de estilos de vida.
Ao examinar boa partes de suas fotos e textos, percebe-se que a relações passam
a ser geridas por meio da lógica do custo-benefício e nesse regime de
visibilidade hipertrofiada, proposto por uma série de blogueiras, especialmente
por Pugliesi, a boa forma física assume importância chave como capital
simbólico pessoal. A moça procura apresentar uma chamada moral da boa forma:
aquela que não se envergonha e nem se preocupa em ocultar a sensualidade, mas
exige de todos os corpos que exibam contornos planos e relevos bem sarados,
como os da pele plástica de uma boneca Barbie, como diz Paula Sibilia,
pesquisadoras da UFF. Nas legendas das narcísicas fotos publicadas no Instagram
evidencia-se nas entrelinhas um discurso norteado por um feroz julgamento que
aponta indiretamente para aquelas usuárias que sucumbem no esforço de se
enquadrar sob as coordenadas da boa forma. E tudo com uma retórica
especializada em garantir as mais desvairadas certezas. Inevitavelmente,
cria-se nas suas seguidoras uma auto-intensa vigilância.
Com o uso do Instagram, percebe-se novas formas
de se apresentar nessa cena midiática e com isso, construir potências
simbólicas de corpos, sobretudo por meio de uma prática de fitness hiperbólica,
pois extrapola o simples ato do condicionamento físico. Prega-se que a forma
física idealizada = qualidade de vida = felicidade, um verdadeiro misto de
entretenimento e auto-ajuda. O fato é que o ecossistema digital que habitamos
hoje é um solo fértil. De lá, brotam ideias, inovações, insights e novos formas
de se comunicar. A explosão das mídias digitais provoca fenômenos que
potencializam a bel-prazer as mais diversas estratégias de se apresentar na
arena online.
Bom, deixa eu ir ali na padaria da esquina
comer uma nega maluca e tomar uma coca-cola pra ver se me ajuda a refletir
ainda mais sobre essas novas apropriações sociais das redes digitais. Depois é
só pular corda durante umas 3 horas e fazer uns 2 mil abdominais que tá tudo
certo.
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