Um dos melhores textos que li nos últimos
anos.
Uma lúcida visão de mundo... e, ao mesmo
tempo, esclarecedora, perturbadora, etc.
José Mujica, presidente do Uruguai, em seu discurso na última assembleia geral da ONU de 2013
José Mujica, presidente do Uruguai, em seu discurso na última assembleia geral da ONU de 2013
Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina
do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história
de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e
cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no
social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no
Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma
espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império
britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios
funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha
esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa
dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz —
que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade
libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo.
Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de
abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu
das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou
para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo
qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas
talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia,
carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos
desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de
todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos
de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do
Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica,
que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos
envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de
defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz,
e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com
aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não
se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz,
e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo,
à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor,
esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja.
Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado,
que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia
em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e,
quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os
detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos
nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis
três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim
como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à
vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela
acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo,
constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no
futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os
ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter
tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a
amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não
se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da
natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e
implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com
esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos
felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que
defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo
funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou
limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais
que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida,
lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e
vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é
inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres,
as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos
automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem
deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os
adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de
essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e
mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula
entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar
condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com
pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado
abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a
impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não
escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase
incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um
mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o
interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua
estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde
visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo,
francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No
fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a
gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não
é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de
definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas,
como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento
global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso
conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais
oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar
as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada,
mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens
úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras.
Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas
mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos
mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às
cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne
ninguém e transforma em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida
humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para
enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros
da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados
nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro
deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a
sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro,
mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que
nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência
ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso
desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a
vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso
acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui
para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o
mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela
enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos
assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um
comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos
protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez,
crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e
a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos
entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a
alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até
que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas
civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao
homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra
sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do
planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso
triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos
enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos
dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que
a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último
século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial
duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da
globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época
aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos
velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar.
Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não
sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não
conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos
condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política
organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade
das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negatica e tão motor da história, essa
que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é
nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes,
paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a
domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo
nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e
estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e
para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano
é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas
subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso
e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões
globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça
superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos
opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui
viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas
que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos
deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as
repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do
povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao
contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos
próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar
pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão
em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que
rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver
diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta
política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer
cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se
comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias
consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que
têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de
outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à
guerra cuando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos
recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se
gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares
por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as
enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais
de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego.
Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também,
esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente,
autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo
plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso
seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e
prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a
dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos
para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas
basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência
dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua
magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas
como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje,
vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que,
obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e
como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da
democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser
iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma
democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de
paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos
doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências.
Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força
pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta
os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável
para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes
e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta
de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o
mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um
pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a
maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América
Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos,
fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem
para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio
de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem,
enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos
artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive
a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o
desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa.
Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que
estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que
comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida.
A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o
individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho
da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos
afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do
mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta
deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que
possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem,
estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de
bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem
anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos
fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem
e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e
para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a
história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa
cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de
governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que
discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta.
Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade
privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento,
com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de
transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode
criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no
essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O
que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se
trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a
indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações
vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos,
levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em
nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis,
precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de
estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas
remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do
esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida
humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que
estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever
biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la,
cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.
Obrigado.
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