por @MarcosHiller
Viva o
controle remoto, essa extensão de nosso braço que nos dá um poder de filtrar os
mais diversos conteúdos e selecionar aqueles que melhor se conectam ao nosso
intelecto e ao nosso interesse. E no final do dia de um domingo qualquer, onde já
estamos com a cabeça querendo concentar para mais uma semana de trabalho, não
queremos conteúdo complexo, queremos pedir uma pizza e sermos impactados por
conteúdo tolo, temas lúdicos, que nos faça rir, que não exija muito de nosso
repertório e que minimamente nos atualize para as principais conversas do
escritório no dia seguinte. E hoje ficamos zapeando de canal em canal, e com
nosso smartphone na mão, onde em tempo real vamos comentando e lendo
comentários das pessoas. As redes sociais se tornam ambientes onde depositamos
legendas com nossas opiniões sobre as programações. Os trend topics do Twitter
e os comentários do Facebook se tornam o diapasão que modela e modula os gostos
da conectada audiência brasileira.
No final da
tarde desse último domingo em especial, a polêmica ex-aluna da UNIBAN, Geisy
Arruda era uma das alunas da Escolinha do Gugu. Concomitantemente, o midiático
Fausto Silva mostrava suas velhas vídeos cassetadas. Logo depois, estreiava na
Rede TV o Saturday Night Live (em um domingo à noite?), o novo programa de
Rafinha Bastos que estava com todas as suas cotas de patrocínio vendidas e não
atingiu 1 ponto de audiência. Enquanto isso, o Pânico na TV da Band, ancorava
sua pauta do programa com o nada engraçado repórter Vesgo entrevistando uma
atriz do antigo programa Carrossel do SBT. Logo em seguida estreiava, também na
Rede TV, o novo programa do Dr. Rey, onde o pitoresco cirurgião de Beverly
Hills, ficava analisando mulheres como se fossem mercadorias em uma prateleira.
Já o Fantástico trazia à tona novamente mais alguns trechos da polêmica
entrevista de Xuxa do domingo passado. O clássico e grisalho Silvio Santos
reprisava pegadinhas com Ivo Holanda da década de noventa, e em seguida passava
o bastão para Marília Gabriela que entrevistara José Aldo, um brasileiro bom de
briga. Para o mais intelectuais, e cerca de 20% da população que possui TV por
assinatura em casa, há conteúdo “mais cabeça”: sintonize na Globo News para assistir
ao Manhattan Connection com o âncora Lucas Mendes e sua bancada nova-iorquina
que discute política, economia e cultura.
É muito
fácil ouvir comentários das pessoas que a programação dominical da televisão
brasileira é de péssimo nível, que aquilo é subcultura, que entorpece a
população, que a noite do último domingo em especial reuniu conteúdo de
baixíssima qualidade, etc. Mas podemos analisar todo esse conteúdo que nos foi
despejado pelas emissoras como o simples retrato do que nós assistimos,
decodificamos e nos entretemos. A cultura, ou o acervo de conhecimento das
pessoas, é que ajuda a modular o processo de recepção de todo esse conteúdo.
Todos nós estamos inseridos dentro uma cultura, e que foi construída durante
anos. E é nesse ecossistema cultural onde as emissoras de televisão se baseiam
para gerar conteúdos. A própria TV Globo está no ar com “Avenida Brasil” e “Cheias
de Charme”, duas telenovelas que estão claramente tentando se conectar com
públicos emergentes, ou a grande parcela da população brasileira. O fato é que
as novelas são grandes produtos culturais, que fazem parte da educação das
pessoas. Algumas delas são verdadeiras obras de arte.
Em evento
recente sobre integração de mídias que aconteceu em São Paulo, diversos
profissionais debateram como as mais diversas mídias hoje como TV, mídias
sociais, entre outras, poderiam coexistir de forma integrada e aproveitando o
que cada uma tem de melhor. Em dado momento do evento, após diretores de
criação de grandes agências mostrarem cases belíssimos sobre mídias sociais,
tomou a fala Ricardo Esturaro, o diretor de planejamento de marketing da TV Globo.
Ele mostrou dados para justificar que ainda demorará um bocado para as chamadas
redes sociais serem usada como mídia de massa. Ele mostrou que 47% dos
brasileiros lêem somente o básico, 21% são analfabetos rudimentares, 7% são
analfabetos e apenas 25%, ou ¼ de nossa população são alfabetizados plenos, ou
seja, que compreendem e interpretam textos. E disse que a TV atinge 100% dos
lares do Brasil e as novelas da Globo têm alcance de 158 milhões de lares. Não
é à toa que a disparada parcela dos orçamentos de marketing das empresas ainda
vão para essas mídias de massa como TV e revistas. Mídias digitais recebem
cerca de míseros 10% das verbas das empresas. O modelo de remuneração das
agências de publicidade no Brasil ainda privilegia essas mídias de maior
alcance. Mesmo porque, cerca de 40% do faturamento de médias e grande agências
no Brasil hoje vêm do chamado bônus de veiculação.
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